terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Precisa-se de alguém que fale polaco

Esta semana recebi uma chamada de atenção por parte da minha professora de polaco. Tudo isto porque a minha lingua oficial aqui é o inglês ou o português. Ou seja, porque não falo polaco com ninguém. Parece que tenho de começar a esforçar-me mais. Mas também, o polaco é daquelas línguas que temos de falar sem dizer a terminação da palavra, porque é sempre um mistério. Então, como eu ainda sei pouquinho, nunca acerto na declinação certa. No entanto, tenho de começar a ganhar coragem de falar o pouco que sei com as pessoas. Agora é que vão começar as barracadas!
Mas melhor do que falar polaco é... cantar em polaco! O professor da universidade decidiu trazer-nos folhas com duas canções tradicionais polacas, uma guitarra e pôs-se a cantar e tocar, para nós o acompanharmos. Foi muito giro, um talento escondido do professor! As músicas eram engraçadas, com umas letras ultra-sentimentais, de fazer chorar as pedras da calçada. Bem... a melodia é que já não era tanto assim, então tinha piada estar a cantar uma coisa tristíssima com uma música algo alegre - estes polacos são doidos!!! hehehe....
No fim destas músicas todas, ia eu toda contente a andar pelo centro da cidade, no meio da chuva, toda encasacada como sempre, quando sou abordada por uma equipa de repórteres da TVP (a televisão pública de cá). Imediatamente lhes disse que não era polaca. Só que disse isto em polaco e eles ficaram a olhar para mim com cara de parvos. Então disse logo a seguir, mas desta vez em inglês, que não falava polaco. Um deles finalmente reagiu e disse que eu lhes poderia responder em inglês e perguntou-me se eu achava que era possível viver sem telemóveis. Nesta altura fui eu que bloqueei e fiquei a pensar uns segundos, com aqueles três estarolas a olharem para mim como para uma aberração (bem, se eu me também olhasse para mim na figura em que estava, acho que também ficaria assustada!!). Por fim lá dei uma resposta breve, que não gerou qualquer espécie de reacção (começo a pensar se eles não seriam autómatos). Como eles não disseram mais nada e eu não tencionava ficar ali a vida toda parada a olhar para eles, dei corda aos sapatos e segui o meu caminho. Fiquei sem perceber grande coisa deles, mas como eu também não vejo televisão aqui, mesmo que me dissessem que era para o programa X, eu não iria identificar.
Quanto a jornais e revistas, nos últimos tempos tomei contacto com alguns. Descobri uma revista aqui que até tem piada, mas é realmente fútil. É uma espécie de guia de compras que apresenta sugestões de diferentes peças de roupa (cada número tem uma espécie de tema, uma peça de roupa em destaque), para diferentes momentos (para a neve, para ginástica, para a praia, para festas, etc.) e também produtos de beleza. Normalmente apresenta o preço, a loja onde se pode comprar e mais algumas informações. Claro que também tem alguns textos com explicações, sobretudo sobre os produtos de beleza, mas eu ainda não atinjo tudo. Ah, foi numa destas revistas que encontrei um artigo só sobre os problemas de electricidade estática no cabelo. É uma revista muito fútil, mas conseguiu ter alguma utilidade para mim.
Agora, nos próximos dias, estarei um pouco mais ausente aqui do blog devido à visita da minha mãe que me vem animar durante uma semana. Desconfio que depois destes dias vou ter mais fotos para colocar aqui.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Futilidades

Abriu recentemente um novo centro comercial no centro de Varsóvia. Para variar, como é a tendência acho que em qualquer parte do mundo, este tem uma arquitectura muito original e centenas das lojas mais fashion do sítio. A grande novidade (pelo menos para mim) é que abriu aqui o primeiro Hard Rock Café de Varsóvia.
Uma coisa que ainda não falei aqui é que nestes centros comerciais há várias lojas grandes que têm o mesmo conceito que o El Corte Inglès, ou seja, são grandes espaços abertos com vários stands de diferentes marcas conhecidas ou não. Cada uma tem um nome diferente, mas já sabemos que dentro delas podemos encontrar um pouco de tudo, dependendo do seu estilo (umas só têm roupa de homem ou mulher, outras têm também acessórios, sapatos, coisas para a casa, etc). Os preços das coisas em geral parecem-me mas baratos do que em Portugal. Bem, claro que as marcas caras são caras em qualquer parte do mundo, mas por exemplo a H&M, que em Portugal é barata, aqui é baratíssima. Acho que só a Zara é que é mesmo excepção.

Questões de estética

Só ao fim de quase dois meses me comecei a aperceber que os polacos devem ter uma epiderme diferente da nossa. Ou então protegem-se mesmo bem. A água da torneira de cá, para além de não ser potável, é - segundo dizem - muito dura e seca imenso a pele. Ora, isto unido ao aquecimento em casa, mais o frio seco na rua dá um resultado muito bom... É pele seca, cabelo com imensa electricidade estática, eu sei lá! E eu ando tão atenta às coisas que só há poucos dias, desde que regressei de Portugal, comecei a reparar nisto. Bem que a cabeleireira de Lisboa me disse que eu andava com o cabelo muito seco. O resultado de tudo isto é um bocado desastroso: há vários dias que não me consigo pentear normalmente (ando sempre com o cabelo todo espetado por causa da electricidade... lindo de se ver!) e tenho sempre a pele sequíssima. Por isso, um conselho a quem pensar visitar a Polónia nos meses frios: tragam cremes gordos para o corpo e cara (dizem que os cremes com água quando há temperaturas muito abaixo de zero não são nada boa ideia) e condicionadores ou outras porcarias para o cabelo, se querem tê-lo minimamente aceitável.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Está tanto frio que o teclado do computador congelou

Ok, foi uma boa tentativa de desculpa... De facto, desde que cheguei ainda não consegui um bocadinho para escrever aqui. Ou falha a internet, ou falha a disposição, ou falha o tempo, eu sei lá. De qualquer maneira só queria repetir que cheguei bem, desta vez sem emigrantes no avião (isto de fazer escala na Suíça tem que se lhe diga...). Desta vez, quem veio também para Varsóvia foram dois repórteres da SIC. Fiquei com a sensação que viriam durante vários dias, mas não faço ideia o que vinham fazer. Por isso, se alguém vir na SIC nos próximos dias alguma coisa sobre a Polónia, que me diga, por favor.
Cheguei um bocado convencida que ainda estava em Portugal, "à fresquinha" (entre aspas, porque é um à fresquinha muito relativo...), e dei de caras com o Inverno em todo o seu esplendor. Uma coisa que acontece muito aqui é não haver grande amplitude térmica. Há dias em que a temperatura se mantém praticamente a mesma. Nos últimos dias tem estado assim. Ontem e hoje apanhei os maiores frios da minha vida (há que ter em conta que eu nunca fui à neve, nem estive em locais muito frios). Hoje a temperatura média rondou os -8ºC e à hora do jantar estavam -11ºC! Até o meu casacão novo e super quente começa a parecer banal. Aquela figura que viram há umas semanas numa foto, em que estou com a cara toda tapada e só se vêem os olhos - que na altura foi só mesmo para dar a impressão de muito frio, apesar de não estar assim tanto -, hoje tive mesmo de andar assim na rua para sobreviver. Ainda bem que estou longe, porque quem me visse na figura em que eu estava, haveria de se rir.
Porque está muito frio, esta semana saí muito pouco de casa. Regressei de Portugal a tomar antibiótico (tinha de ser, ficar doente logo quando estava em Lisboa!...) e várias pessoas aqui me aconselharam a não arriscar andar por aí à solta. Por isso, tirando as aulas de polaco (coitados dos professores, esqueci-me de metade das coisas que aprendi durante o tempo que passei em PT...), andei pouco pela rua. Hoje fomos a um concerto na Filarmónica de Varsóvia, um pianista a interpretar peças de Bach, Mozart, Mendelssohn e Chopin. O senhor era óptimo, tocou super bem, mas fazia umas expressões de chorar a rir. Ainda por cima ficámos muito perto do palco, foi imposível em alguns momentos não esboçar um sorriso. Perdoem-me a estupidez, mas foi mesmo assim. Houve até uma altura em que, após um comentário com uma das pessoas com quem fui, pensei q não ia conseguir conter o riso, mas lá voltei a olhar para a frente e concentrar-me.
Para concluir, hoje o briole desmedido foi acompanhado por neve (puxada a vento, mas pefiro não lembrar isso...). É bom voltar a andar em cima do que parece a cobertura de açúcar de um bolo qualquer. Se isto continuar assim, no fim de semana vou andar outra vez de trenó.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Pequeno balanço de um mês em Varsóvia

. Já começo a perceber um bocadinho mais de polaco. Mas só um bocadinho... Acho que as aulas começam a ter algum efeito. Mas também começam a tornar-se mais difíceis (nunca pensei que isso fosse possível, mas...)

. Os horários das refeições começam a ser mais normais. Já sobrevivo melhor sem morrer à fome. Também aprendi a fazer algumas comidas polacas e descobri que os polacos usam centenas de especiarias diferentes, a maioria nunca ouvi falar. Às vezes a mistura de umas dezenas delas até resulta bem. Mas nem sempre...

. Os dias já estão um bocado maiores. Quando tenho de me levantar cedo já não está aquele ar de noite e ao fim do dia também se começa a notar. Que alegria!

. Já nevou, as ruas estiveram brancas, depois parou, derreteu tudo, ficou tudo outra vez normal e neste momento estão a cair alguns flocos outra vez. As temperaturas estiveram negativas, agora andam no positivo outra vez e há imensas pessoas com gripes e constipações. Eu, felizmente, estive lá perto mas consegui fugir (ou vou conseguir fugir para Portugal).

. A lua aqui vê-se maior do que em Portugal. Estes dias em que esteve lua cheia era impressionante vê-la tão grande e tão perto. Muito bonito, mesmo. Estrelas, como é óbvio, ainda não vi nenhumas. Mas só a lua vale a pena. Agora, dizer lua em polaco é que já é um problema.

. Já me oriento melhor nas ruas, começo a conhecer alguns caminhos e estradas e agora, por motivos de força maior, tenho-me aventurado mais com o carro sozinha. Em algumas zonas já me sinto mais à vontade. Claro que me enganei algumas vezes em caminhos, mas assim fui aprendendo e agora já sei por onde devo ir.

. Consegui sobreviver duas semanas sem internet, a "alimentar-me" dela em casa alheia, a ter de escrever sem acentos. Praticamente não usava o computador em casa, o que me permitiu estudar mais polaco e ler alguma coisa.

. Vi televisão polaca, ouvi rádio polaca, olhei para jornais polacos (não posso dizer que li) e tive o azar de ir duas vezes ao cinema sem perceber grande coisa. Descobri que nesta altura do ano a maioria dos anúncios na televisão são a medicamentos para constipações e gripes. Vi também um bocado de um campeonato de saltos na neve (acho que é assim que se chama, nem sei...) que venceu o atleta/skiista/saltador???/ polaco. Por acaso foi giro.

. Vi um filme cuja acção se passa em parte em Varsóvia. Teve imensa piada ver sítios conhecidos, também alguns palácios que apareciam como sendo casas particulares noutros locais da Europa. O filme perde a magia toda, isso é verdade, e é um bocado mau. Mas por estas imagens de Varsóvia até foi engraçado vê-lo.

. Ao fim de um mês recebi uma proposta não oficial para dar aulas de português a uma turma de polacos e tenho uma entrevista de emprego marcada, apesar de ainda não ter começado a procurar trabalho.

Pode-se dizer que o balanço deste primeiro mês é positivo. Claro que tenho um bilião de saudades de Portugal, mas começo a achar que afinal até consigo sobreviver aqui.

sábado, 3 de fevereiro de 2007

Apenas umas fotos

Ontem estive na Stare Miasto (a cidade velha) pela primeira vez com máquina fotográfica. Mesmo assim, não tirei muitas fotos.

Aqui a vista da praça do palácio real, com o telhado da catedral de Varsóvia a ver-se ao fundo.














O Palácio Real - esta é a versão totalmente reconstruida depois da II Guerra Mundial. Segundo me disseram, os alemães quiseram destruir bem esta parte da cidade para que não sobrasse nada.














Aqui uma foto de uma foto onde se pode ver bem o estado em que ficou esta parte da cidade depois da guerra. Nada de palácio. O objectivo do Hitler para Varsóvia não era anexar a cidade, mas sim pura e simplesmente destruí-la até não ficar mesmo pedra sobre pedra.














Esta não se percebe bem, mas é uma espécie de mini-monumento de memória da Insurreição de Varsóvia. Sobretudo esta parte da cidade está cheia deste tipo de coisas e placas a lembrar o que aconteceu em determinados locais. Esta peça pertencia, pelo que percebi, a um tanque que os alemães usaram muito durante a Insurreição para atacar os polacos. Acho que devia ser uma espécie de tanque-bomba.














O mais interessante destas histórias da guerra é que muito facilmente encontramos pessoas que passaram por isto, ou participaram na Insurreição, etc. Claro que também não é muito boa ideia fazer mil perguntas sobre isso, porque as pessoas não gostam de falar. Mas é incrível saber que ao nosso lado pode estar alguém que tem imensas coisas para contar sobre a guerra.

Agora o meu próximo objectivo de fotos - e para ver se realmente começo a aprender algo mais de história para depois vir aqui contar - é a entrada do gueto de Varsóvia. Vamos ver quando conseguirei lá ir.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Gdzie mieszkasz?

Nas minhas últimas aulas de polaco temos falado muito sobre as moradas. Fazemos vários exercícios de expressão oral em que temos de dizer a nossa morada completa. Normalmente dizemos a morada polaca – por isso é que o professor me chateia sempre a dizer que somos vizinhos.

O que eu hoje gostaria de dizer é que as moradas aqui são um bocadinho diferentes das nossas em Portugal. Aqui, o nome de uma rua num endereço não significa que essa casa seja necessariamente nessa rua. Acontece várias vezes que estejam vários blocos de prédios em que um deles dá para uma rua e todos ficam com o nome dessa rua na morada. Por vezes pode ser um bocado confuso (eu que o diga, uma vez estive uns 20 minutos às voltas à procura da casa de uns amigos num bairro em que todos os prédios tinham o nome da mesma rua, apesar de ficarem separados uns dos outros e sem qualquer ordem). Mas claro que isto não acontece em toda a parte, só em algumas zonas (por exemplo, onde eu estou a morar agora não é assim). Outra coisa complicada é o número do apartamento. Em Portugal normalmente o apartamento define-se primeiro pelo número do andar e depois pelo lado, letra ou número da porta nesse andar. Aqui não tem nada a ver. Se num bloco há 50 apartamentos, eles são numerados de 1 a 50. A confusão chega quando temos a morada toda, chegamos ao prédio, tocamos à porta, abrem-nos, entramos no elevador… e agora? Qual é o andar?? Até agora só tive duas experiências em relação a isto. Na primeira andei para cima e para baixo no elevador e nas escadas para descobrir o andar para onde tinha de ir. Na segunda tive imensa sorte… Ia para um apartamento número 13, entrei no elevador e carreguei ao calhas no 5º andar. Quando a porta do elevador se abriu, voilà, tinha a porta 13 mesmo ali!

Conclusão: encontrar uma morada aqui pode ser bem mais difícil do que parece.