sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Ciechanów

Na altura do feriado do 11 de Novembro, decidimos aproveitar a ponte para ir passear. Fomos até Ciechanów, uma cidade que fica a uns 100km a norte de Varsóvia. É uma cidade nada de especial, predominam os blocos de betão comunistas. Mas o que atrai muitos visitates àquelas bandas é o castelo dos Príncipes da Mazóvia. Este castelo foi construído no séc. XIV num pântano, para ser de difícil acesso. Tivémos pena que no dia em que lá fomos não se podia visitar o interior. Lemos duas lendas relativas ao castelo. A primeira, fala de um pagem do príncipe que se apaixonou pela princesa. Para o castigar, o príncipe mandou prendê-lo numa das torres do castelo durante um ano. Para o ajudar, a princesa levou-lhe ferramentas escondidas em comida e o pagem escavou um túnel para poder fugir. Ao que parece, o buraco na torre é visível ainda hoje. No entanto, nós não demos por ele. A segunda lenda fala de um castelão que tinha muitos ciúmes da sua esposa. Certa vez, ofereceu-lhe um anel muito caro. Porém, este anel desapareceu. O castelão decidiu assim dar-lhe outro. Quando o anel da castelã desapareceu pela terceira vez, o seu marido convenceu-se que ela teria um amante secreto e mandou matá-la. Algum tempo depois, uma criada do castelo descobriu num ninho de uma pega-rabuda (um pássaro que há muito por estes lados e que é conhecido por roubar coisas) os três anéis. Descobriu-se então a inocência da castelã, mas tarde demais.

Um prédio engraçado em Ciechanów:O museu do romantismo em Opinogóra (fica lá perto):

E, como já vem sendo normal nestes dias, o nosso passeio lá teve de terminar cedo, porque começou a escurecer. Que pena...

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Barracada...

...do jornal alemão Die Welt. Parece que o dito publicou na segunda-feira um artigo na sua edição online, no qual se referia ao "antigo campo de concentração polaco de Majdanek". Imediatamente saltou a tampa aos polacos, pois os campos de concentração que havia na Polónia eram todos alemães e não polacos. Dizem que os alemães queriam que eles fossem chamados de "campos de concentração nazis", mas os polacos insistem que são alemães e ponto final. A polémica foi imediata e o Die Welt alterou logo o texto da notícia e publicou uma nota no fim a pedir desculpa e a explicar a gaffe. O Ministério dos Negócios Estrangeiros polaco até começou a falar de processá-los, etc. Acho que na prática não vai acontecer nada, mas de qualquer maneira os polacos quiseram mostrar bem que nestas coisas é melhor não haver confusões. É a tal coisa, apesar de ter um nome derivado da vizinha vila de Oświęcim, Auschwitz para os polacos será sempre Auschwitz, pois é uma "invenção" alemã e não polaca.
De facto, há certas coisas na vida dos polacos que mais vale não tocar. Algumas feridas cicatrizam muito lentamente.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Um novo monumento em Varsóvia

Uma das coisas que sempre tive curiosidade em saber era exactamente onde tinha sido o Gueto de Varsóvia. Quer dizer, eu sabia mais ou menos em que zona era - até porque uma vez me disseram que as casas aí construídas estão ligeiramente mais altas do chão, por terem sido construídas sobre as ruínas do Gueto, e isso é visível. Mas queria saber com precisão. Comprámos há uns meses um livrito que tinha lá um mapa, mas nunca cheguei a fazer esse percurso para ver como é hoje.
Até que a cidade de Varsóvia teve uma boa ideia: colocou uma série de placas de bronze com um mapa do Gueto em zonas por onde passava o muro do dito. Uma forma de assinalar as suas fronteiras. Segundo dizem, podemos ver estas placas nas ruas Złota, Żelazna, Grzybowska, Solidarność e Żytnia, entre outras. Nós fomos em busca da placa na rua Świętojerska e, de facto, lá estava ela, toda janota à nossa espera para uma sessão de fotografias.



















Diz a inscrição:
«Por decisão das autoridades ocupantes alemãs, o gueto foi isolado do resto da cidade no dia 16 de Novembro de 1940. A área do gueto, rodeada por um muro, tinha inicialmente cerca de 307 hectares; posteriormente foi ampliada e a partir de Janeiro de 1942 dividiu-se no chamado pequeno e grande gueto. Foram enclausurados aqui cerca de 360 mil judeus de Varsóvia e cerca de 90 mil de outras localidades. Cerca de 100 mil pessoas morreram à fome. No verão de 1942, os alemães deportaram e assassinaram nas câmaras de gás de Treblinka cerca de 300 mil pessoas. No dia 19 de Abril de 1943 estalou uma insurreição; até meados de Maio insurgentes e civis morreram na luta e nas chamas do gueto sistematicamente incendiado; os outros foram assassinados pelos alemães em Novembro de 1943 nos campos de concentração de Majdanek, Poniatowa e Trawniki. Poucos sobreviveram.
À memoria daqueles que sofreram, lutaram, morreram. Cidade de Varsóvia, 2008
Pequeno fragmento do muro norte do gueto aqui preservado.»


E, para terminar, duas pequenas imagens das primeiras neves que cairam por aqui. Pena que não tirámos fotos no domingo. Isso sim, tinha sido giro. Caiu um nevão engraçado (que coincidiu com um momento em que tive de sair à rua...), era ver as criancinhas e pais todos aqui no parque infantil a descer as montanhinhas de trenó e a atirarem bolas de neve.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Recuando uns dias: o 11 de Novembro

Dia 11 de Novembro é feriado nacional na Polónia. Celebra-se a festa da independência. Independência esta reconquistada após a Iª Guerra Mundial - depois de mais de um século de Polónia dividida entre Rússia, Prússia e Áustria. O grande herói destes tempos é o marechal Piłsudzki (curiosidade: ao contrário do que muitos pensam, a rua Marszałkowska em Varsóvia não deve o seu nome a este marechal).
Na véspera deste feriado, fomos convidados para uma festa de anos algo patriótica. Em casa dos nossos amigos, em pleno coração da cidade, gerou-se um ambiente bem engraçado. A mesa da comida estava decorada com bandeirinhas polacas (pena que não tirei nenhuma foto). Mas o original desta festa foi que todos fomos convidados para irmos lá cantar cânticos patrióticos polacos! Tinhamos à nossa disposição cancioneiros com as letras das músicas e um amigo dos anfitriões dava o tom para ninguém se enganar. Foi um verdadeiro convívio patriótico! O mais curioso é que, no meio daquelas músicas todas, havia uma que eu conhecia, porque aprendi no curso na Universidade de Varsóvia!
Deixo aqui para quem quiser ouvir uma das várias músicas que cantaram na festa, chamada My Pierwsza Brygada (nós, a primeira brigada), que era onde estava o Piłsudzki (e o bisavô do Stas também, por sinal).

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Powązki

Falando ainda a propósito do dia de Todos-os-Santos, não posso deixar de referir o cemitério de Powązki. É o cemitério mais antigo de Varsóvia e penso que um dos mais bonitos (não conheço os outros todos, mas imagino que sim). Nele encontram-se sepultados vários polacos famosos, sejam actores, escritores, juristas, artistas plásticos, músicos, etc. Muitas das campas e jazigos que lá há datam do século XIX. No dia de Todos-os-Santos ira Powązki é suicídio. As ruas à volta deste cemitério são fechadas, nas redondezas vemos placas de sinalização a indicar parkings provisórios criados especialmente para aquela ocasião e o trânsito para lá chegar também não anima. A solução é mesmo ir de eléctrico. Tentei ir lá no dia 2 de Novembro, já que dia 1 não foi possível, mas desistimos. Acabámos por ir uma semana depois, apesar de já não ser a mesma coisa. No próprio dia de Todos-os-Santos em Powązki concentram-se alguns polacos famosos a fazerem um peditório para a conservação e restauro dos túmulos de pessoas, conhecidas ou não, que por já não terem família, se estão a degradar. Pelo que percebi, se no dia 1 nos cemitérios normais já há grande confusão, então naquele deve ser um autêntico circo.
O cemitério de Powązki está rodeado por um cemitério judaico, um protestante e um muçulmano (dos tártaros, com túmulos também de séculos passados). Lá dentro, temos uma parte central com sepulturas antigas, uma zona chamada Aleja Zasłużonych, que se traduz mais ou menos por Avenida (ou Passeio) dos Meritórios, onde há uma espécie de corredor com vários cofres onde estão os restos mortais desses meritórios. Mais uma vez, como agora escurece tão cedo, não conseguimos fazer a visita ao cemitério tal como queríamos. Aqui ficam algumas fotos de Powązki (da parte civil, porque parece que também há um lado militar):

Uma inscrição à porta do cemitério: Quando se apaga a memória humana, passam a falar as pedras. Do Cardeal Stefan Wyszyński, Primaz da Polónia.

A planta do cemitério.

Uma lápide com a inscrição: Aos soldados franceses que cairam na Polónia entre 1919-1921.





A igreja do cemitério. Duas fotos tiradas com tipo dois segundos de intervalo (só depois de tirar a segunda é que reparei que as luzes se acenderam!!










Breve resumo da história do cemitério:
Foi erguido (salvo seja) em 1790 numa propriedade cedida por um tal de Szymanowski. A igreja e catacumba foram construidas em 1792 de acordo com o projecto do arquitecto real Dominik Merlini. Foi ampliado 19 vezes. A sua ampliação terminou em 1971. Tem área de 43 hectares. A igreja foi reconstruida duas vezes: em 1847-1850 e 1890-1891. Durante a IIª Grande Guerra, a igreja e a catabumba foram destruídas, bem como muitos dos túmulos com significado histórico. Durante a ocupação alemã, o cemitério foi uma espécie de local de manobras do AK (o exército nacional clandestino, tipo resistência). Pelo cemitério conseguiam fazer passar alimentos para dentro do Gueto de Varsóvia. A igreja e a catabumba foram novamente construidas entre 1945 e 1976. No cemitério estão sepultados insurgentes e heróis polacos desde os tempos das partilhas da Polónia até à IIª Guerra. Num mausoléu estão cinzas de vítimas dos campos de concentração.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Varsóvia em Dia de Todos-os-Santos

Com algum atraso, venho aqui escrever sobre o dia de Todos-os-Santos na Polónia.
Como em muitas outras partes do mundo cristão, no dia de Todos-os-Santos vai-se ao cemitério. Apesar de em Portugal também haver esta tradição, penso que ela se extende principalmente ao meio rural. Nós, pelo menos, em Portugal, nunca fomos a nenhum cemitério no dia 1 de Novembro (e muitas das pessoas que conheço também não vão). Pois na Polónia este é o dia em que se vai ao cemitério. E quem não pode ir no dia 1, vai nos dias seguintes, durante a oitava da festa. No ano passado passei o dia de Todos-os-Santos que nem podia e não pus o pé fora de casa. Este ano pus os dois e lá fomos todos em direcção ao cemitério. À volta dele, o caos. Estacionamento tipo quem vai ao futebol e imensos comerciantes com as suas bancadas (ou não) a venderem velas funerárias de vários tipos, cores e feitios (e preços), arranjos florais próprios para campas, alguns bolinhos e até mesmo brinquedos! Bem, pelo menos vi um que vendia brinquedos, mas acho que era o único. No cemitério as campas estavam ornadas com flores e velas acesas. Um espectáculo algo engraçado. Dizem os que neste dia vão ao campo que os cemitérios das aldeias são dignos de se ver, de tão bem ornados que ficam. Parece que à noite, quando se passa por eles, vê-se uma "nuvem" de luz das velas que lá deixaram acesas.
E falando de velas acesas, os polacos deixam-nas não só nos cemitérios, mas em todos os locais que indiquem mortos, como por exemplo em locais onde houve acidentes de carro e em monumentos. Deixo aqui alguns exemplos:

Este é o monumento em memória das vítimas dos soviéticos durante a IIª Guerra Mundial. Fica perto da porta do antigo Gueto de Varsóvia. O monumento consiste num carril gigante, em que cada trave tem escrito um local (penso que talvez seja o local para onde os polacos foram deportados, mas não sei ao certo). No cimo, um vagão aberto cheio de cruzes. Não dá para ver bem na foto, mas estavam lá umas pessoas a colocar velas.

Aqui está a parte central do monumento (à qual fizeram tunning e puseram estas luzes lindas por baixo).

Placa identificativa do monumento com a data do início da agressão soviética: 17 de Setembro de 1939.

O monumento da Insurreição de Varsóvia.

O célebre local onde o Papa João Paulo II celebrava as suas Missas em Varsóvia e que tem também uma placa no chão alusiva ao funeral Cardeal Wyszyński, que me leva a crer que a Missa do funeral deve ter sido também ali (note-se a presença do Stas e da Teresa na foto).

Por fim, o monumento ao soldado desconhecido.

PS - Apesar de parecer que andámos a passear à noite por Varsóvia, devo esclarecer que na realidade eram entre 17h e 18h...

terça-feira, 4 de novembro de 2008

O serviço nacional de saúde polaco

Algumas pessoas já me devem ter ouvido falar do serviço nacional de saúde polaco, normalmente elogiando-o. É verdade que estou muito contente com a pediatra da Teresa, com a forma como somos atendidos no centro de saúde, como nunca tenho de esperar em filas, etc. Pois bem, finalmente comecei a conhecer melhor certas realidades e, agora sim, venho queixar-me! Da última vez que fomos às vacinas, fiquei de marcar nova consulta para Dezembro. Quando fui marcar, disseram-me que ainda não tinham os mapas de Dezembro e pediram para telefonar na semana seguinte. E aqui começam os meus problemas.
A avó do Stas, que é médica, diz que no centro de saúde somos bem atendidos e fazemos tudo... quando lá estamos. Quando não estamos... não vale a pena. Antes de fazer esta marcação, tenho de fazer outra para outro médico do centro de saúde (noutra filial). Telefonei na 6ª feira. Responderam-me secamente que à 6ª o balcão das marcações não funciona. Achei muito estranho as marcações terem folgas, mas enfim. Telefonei 2ª à tarde. «O balcão das marcações não funciona na 2ª à tarde». Apre. Perguntei se na 3ª funcionava, disseram-me que sim. Telefonei 3ª, mas ninguém me atende. Descobri um número alternativo e liguei para lá. Disseram-me que não era ali e reencaminharam-me a chamada. Repeti pela enésima vez o meu discurso: «Bom dia, queria marcar uma consulta com x». Do outro lado respondem-me que aquelas marcações não se fazem ali, que ligue para outra filial. Fiquei furiosa, porque já me podiam ter dito isso das outras vezes que liguei. Mas não, claro, porque o balcão das marcações estava fechado (sou capaz de jurar que foi a mesma voz sempre a atender-me). Pedi o número dessa filial e deram-mo. Liguei para lá e respondem-me: «O balcão das marcações só funciona à tarde»... Ia tendo um colapso! Por fim desisti e pedi que fosse o Stas a ligar para lá, antes que eu mandasse um berro a alguém. Por sorte, ele conseguiu ser atendido. Mas a resposta? «Ligue a partir de dia 12». Haja paciência!...

sábado, 1 de novembro de 2008

Bruxas? Não, obrigada.

Ontem à tarde aconteceu-me uma situação inesperada. Estávamos muito bem em casa, numa boa conversa com as nossas amigas, quando alguém tocou à porta. Abri, mas ninguém subiu logo. Pensei que fosse engano, ou algo do estilo. Passado um bocado, tocam outra vez, mas cá em cima. Abro a porta e dou um salto! À minha frente estavam duas crianças, uma vestida de bruxa, outra com uma máscara horrorosa na cara. Tinham sacos nas mãos e disseram-me: "Cukierek albo psikus" (doces ou partida, mais ou menos isto). Olhei para elas com cara de parva e como não tinha nada em casa, disse-lhes isso mesmo e elas lá seguiram o seu caminho. Claro que não me fizeram partida nenhuma.
Digam o que disserem, acho o halloween uma grande treta. Mais uma daquelas americanices de que os polacos tanto gostam. Mesmo assim, por cá não existe nenhuma grande tradição de halloween. Para mim, acho o carnaval mil vezes mais interessante que o halloween. Os miúdos (e graúdos) mascaram-se, mandam água uns aos outros, fazem partidas, divertem-se à brava. Agora, brincar com bruxarias, feitiçaria, espiritismos e outros que tais, sinceramente, não acho que valha a pena. Prefiro que os meus filhos brinquem com coisas alegres e divertidas, porque quem brinca com o fogo queima-se. Posso parecer exagerada, mas de facto what goes around, comes around. Prefiro influências positivas.