sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Czarnobyl

Que é como quem diz Chernobyl. Ontem estive a ouvir uma conversa interessante sobre o acidente em Chernobyl e como isso foi para a Polónia. Tudo começou quando alguém me perguntou se eu me lembrava de, em pequena, tomar lugol. Eu olhei para o meu interlocutor, muito surpreendida, pois nunca tinha ouvido falar de tal coisa. Contaram-me então que, após o acidente no reactor, todas as crianças até aos 17 anos tinham de tomar lugol. O lugol consiste num preparado à base de iodo, que ajuda na prevenção do cancro na tiróide (que era um dos grandes riscos de quem estava exposto à radiação). Logo a seguir ao acidente, a região do nordeste da Polónia começou a distribuir o remédio, mas rapidamente a distribuição se alargou a todo o país. Dizem que foi uma das melhores coisas que fez o então governo comunista, pois imediatamente todos tiveram acesso ao lugol. Em poucas horas, 18,5 milhões de crianças receberam o remédio. Na rua havia cartazes afixados a dizer para as pessoas irem aos centros de saúde levantar o preparado. Em princípio, todas as crianças polacas daquele tempo devem ter tomado isto.
Outra coisa que se tomava também era leite em pó. Desconfiava-se do leite, pois as vacas andavam a comer relva que podia estar contaminada. Coitadas das famílias, que naqueles tempos difíceis tinham de andar a arranjar leite em pó para os filhos. A minha sogra conta que a seguir à catástrofe, quando foi levar os filhos à escola, perguntou se naquele dia iam dar-lhes leite. Responderam-lhe com grande indiferença que claro que sim. Eles ficaram um pouco assustados, mas nada podiam fazer, porque naqueles tempos não era como hoje, que se pode chegar à escola e dizer: "Hoje não dêem leite aos meus filhos." O mais provável é que nos desprezassem e dessem o leite na mesma. Aliás, uma característica dos tempos do comunismo que já ouvi referir por várias pessoas (e aparece também caracterizada no satírico filme Miś) é o facto de, em geral, nas lojas e nos serviços públicos as pessoas serem tratadas com muito desprezo. Não havia, de modo nenhum, a atenção pelo cliente que há hoje (não era o cliente tem sempre razão, mas mais o cliente nunca tem razão).
Voltando novamente a Chernobyl, a nível de contaminação, um ano depois os países mais afectados eram a Bulgária, Áustria, Grécia e Roménia. Neste gráfico (cliquem nele se o quiserem ver maior), a Polónia só aparece em 10º lugar, depois da Itália (quem diria?) e Portugal, claro, aparece quase no fim da lista. Actualmente não se sabem contabilizar as consequências de Chernobyl na Polónia, mas dá-me a sensação que não são muito grandes. Já passaram mais de 20 anos e não há efeitos escandalosamente visíveis. Dizem até agora que a toma do lugol não era indispensável, pois a Polónia nunca correu grande risco. A Ucrância e sobretudo a Bielorrúsia (nossas vizinhas) é que foram mais afectadas.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A neve é uma coisa muito gira, mas...

O mal de quando a neve derrete toda é que só se vê porcaria por toda a parte, sobretudo cócós de cão. Às vezes até parece que estou em Lisboa!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Sylwester

Já percebi que o mercado dos artigos sazonais na Polónia é bem maior do que em Portugal. Pelo menos daquilo que eu me lembro. Se no Todos-os-Santos por toda a parte encontrávamos à venda aquelas velas típicas de cemitério, no Natal era ver em cada esquina vendedores de pinheiros e nos supermercados enfeites de todos os estilos. Nesta época, já se vê por aí uma série de artigos para o Carnaval, desde máscaras a confetis. E o que é que isto tudo tem a ver com o Sylwester (a noite da passagem de ano, o dia de S. Silvestre)? É que nos dias que antecedem o ano novo, para além de aumentar a compra de bebidas alcoólicas, em toda a parte podemos comprar fogo de artifício. Até na rua, num passeio qualquer, alguém decide montar uma banquinha a vender foguetes e lá vai fazendo uns trocos. Nós acabámos por não comprar, mas também não foi preciso. Toda a gente comprou, então vimos milhares de fogos de artifício.
Mas o mais giro que vimos foi no parque Morskie Oko. À meia-noite fomos para lá, pois estávamos numa festa numa casa ali em frente. Várias pessoas tinham ido para ali mandar foguetes (que isto não seja mal interpretado). Não muito longe deste local, na Plac Konstitucji, estava a decorrer a festa de ano novo organizada pela cidade de Varsóvia, com vários artistas e tal. Ora, neste parque de Morskie Oko pudemos admirar o fogo de artifício dessa festa e devo dizer que foi muito giro. Fiz uns pequenos filmes com a máquina fotográfica, deixo-vos aqui um deles que dá para ter uma ideia:

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Kolędy

Certo dia, numa aula de polaco, falámos de cânticos de Natal. Surgiu-me a dúvida sobre como escrever a palavra polaca que a eles se refere, se kolenda ou kolęda. Achava eu que se escrevia com en. A minha professora corrigiu-me e explicou-me, que sendo uma palavra tipicamente polaca, escrevia-se com ę.
De facto, kolęda é algo mesmo típico dos polacos. Durante os dias do Natal, há sempre um momento em que todos páram para cantar músicas natalícias. Para além de em algumas casas haver um CD com estas músicas a tocar, há sempre a altura em que o desligam e cantam todos juntos. Quem tem instrumentos, toca-os e o resto acompanha. Há imensas kolędy, acho que nenhum polaco as deve conhecer a todas. Pediram-me a certa altura que cantasse uma portuguesa. Neste momento deu-me uma branca e não me conseguia lembrar de nada. Veio-me à cabeça aquela do "Olhei para o céu, estava estrelado, etc.", mas não me aventurei a cantá-la sozinha diante de todos. Até porque nem conheço a letra toda. Ainda por cima, as kolędy têm todas uma letra muito religiosa e esta de que me lembrei é um bocado inventada ("Eu hei-de dar ao Menino uma fitinha para o chapéu"?? Quem é que se foi lembrar de inventar isto??). De resto, só me ocorriam aquelas que a Maria cantou mil vezes no Natal do ano passado, mas essas são espanholas (o burrito sabanero, que frio hace en el portal, baba uisha, ...). Uma vergonha!
Ao fim de várias semanas sempre a ouvir estas músicas, elas acabam por entrar no ouvido. E depois, tem piada ouvir como diferentes pessoas as cantam de diferentes maneiras.
Tradicionalmente, nas vilas e aldeias havia um grupo de pessoas que íam pelas casas cantando músicas de Natal. Acho que isto ainda se faz em alguns lugares. Houve uma pessoa que nos contou que este Natal um grupo de miúdos andou pelo prédio dela a bater às portas e a cantar. Para ganhar umas massas, claro.
Para terminar, deixo aqui um vídeo de uma kolęda, chamada Gdy się Chrystus rodzi, que significa "Quando Cristo nasce".

Natal polaco

Apenas algumas notas em relação ao Natal na Polónia.

. Diz a tradição que a ceia da véspera de Natal se começa a partir do momento em que aparece no céu a primeira estrelas. Quando há crianças, normalmente elas ficam à janela à espreita, a ver quem vê primeiro a dita estrela. Na Polónia isto significa que se começa a comer lá para as 16h da tarde. Uma vez que a maioria das pessoas trabalha dia 24, nem todos começam tão cedo.

. Na mesa da Consoada costuma-se colocar no centro, por baixo da toalha, um bocado de palha. Tradicionalmente isto compra-se na igreja, mas hoje em dia vende-se também nos supermercados. Nós, por acaso, não tivemos esta tradição.

. Muito típico nesta época é o opłatek. O opłatek é uma hóstia rectangular que se partilha no Natal com a família e os amigos. Cada um recebe um bocado de opłatek, que irá distribuir por todos. Vamos ter com cada pessoa, ela parte um bocadinho da nossa hóstia, come-a e nós fazemos o mesmo. Enquanto isto, fazemos os nossos votos a essa pessoa; dizemos o que lhe desejamos e ela faz o mesmo connosco. Na Páscoa também há quem faça algo semelhante, mas partilhando ovo cozido (como os ovos são símbolo da Páscoa). O opłatek partilha-se não só na Véspera de Natal, mas em todos os encontros que fazemos nesta época (jantares de Natal, festinhas, etc). Para mim, esta tradição é um bocadinho difícil, pois desejar individualmente algo a alguém é uma coisa muito pessoal. Sobretudo quando não conhecemos bem a pessoa, isto torna-se complicado. Mas enfim, lá me desenrrasquei.

. Na mesa da Consoada tradicionalmente têm de estar 12 comidas diferentes. E tudo pratos de peixe, pois só no dia de Natal se come carne. Ouvi dizer de quem contasse o saleiro e o pão para fazer as 12. No nosso caso, por acaso tivemos 12 travessas na mesa, mas puramente acidental. Às vezes a mesma comida estava em duas travessas diferentes, para facilitar. Entre os peixes, o mais tradicional é a carpa. Para além dele, come-se também arenque e outros.

. Os doces de Natal são mais à base de bolos secos. Há o keks, uma mistura entre o bolo-rei e o bolo-rainha, feito com passas e coisas do estilo; o makowiec, um bolo feito à base de sementes de papoila; pierniki, que são bolinhos de gengibre; e vi também sernik (cheesecake) e outros semelhantes. Depois de ver as comidas polacas típicas desta época, percebo porque é que cá conseguem festejar três dias de Natal e em Portugal não.