terça-feira, 24 de março de 2009

Polónia maluca

Em Portugal há o ditado "Março, Marçagão"; na Polónia não faço ideia o que poderá haver.
Hoje acordei e vi no telhado em frente flocos de neve. Não queria acreditar, aproximei-me da janela e vi na relva lá em baixo bocados de neve, como se fossem orvalho. Bolas, pensei eu, mais um dia de frio. À hora do almoço, porém, começou a brilhar o sol. Brilhava tanto que a certa altura tive de tapar as janelas da sala, tal era o calor. Já não se aguentava. Abri janelas e olhei para o termómetro exterior da cozinha (que está ao sol), que marcava 15ºC. Epa, voltei a pensar, está um dia fantástico! Lá fui à minha vida e passados uns momentos voltei a essa mesma janela. O sol já tinha sido coberto por nuvens. O termómetro? Marcava 5ºC. 5ºC! Não queria acreditar! Onde estava o calor que momentos antes me tinha feito sentir esturricada na sala? Pior de tudo: às 17h olhei pela janela e não é que estava a nevar??
Conclusão: o tempo na Polónia em Março é mesmo uma malucada!

Outra vez o sol na Polónia

Com o sol a nascer às 5:30, quem é que explica à Teresa que é suposto ficar a dormir ainda mais umas horas?...

quinta-feira, 19 de março de 2009

Piadinha dos tempos do comunismo

Certa vez, o "Tio" Stalin veio visitar a Polónia. Os camaradas do partido, para serem simpáticos, levaram-no a dar um passeio de carro pela cidade. Quando estavam a passar pelo Palácio da Cultura, Stalin perguntou:
- O que é aquilo?
- Aquilo é o Palácio da Cultura e da Ciência de Jozef Stalin(1) - responderam-lhe.
- Oh, camaradas, dedicaram-me o palácio? Não era preciso! Tanta honra! - disse Stalin comovido.
E lá continuaram o passeio.
Foram andando pela Ul. Marszałkowska (Rua do Marechal) e Stalin perguntou:
- Que rua é esta?
- Esta é a Rua do Marechal
- Camaradas! - disse Stalin embasbacado - Outra vez, tanta honra! Uma rua em meu nome? Mas que simpatia!(2)
Passado mais um bocado, chegaram até à Plac Zbawiciela (Praça do Salvador) (3).
Como sempre, Stalin perguntou:
- Que praça é esta?
- Esta é a Praça do Salvador.
- Epa, ó camaradas, não acham que já estão a exagerar?...

_____________
(1) Este era o nome que o Palácio tinha durante o comunismo. Depois passou a ser simplesmente Palácio da Cultura e da Ciência.

(2) Stalin tinha o título de Marechal da União Soviética, um título que existiu apenas de 1935 a 1991. No entanto, como é óbvio, a Ul. Marszałkowska não tem este nome por causa dele...

(3) A Plac Zbawiciela, Praça do Salvador ou Praça do Santíssimo Salvador, fica numa das pontas da Ul. Marszałkowska. Tem este nome penso eu devido à igreja do Santíssimo Salvador que fica precismente ali.

terça-feira, 17 de março de 2009

Kiler

Ainda falando sobre filmes, desta vez polacos, recentemente vi mais uma daquelas comédias polacas meio parvas. Digo parvas, porque o são, mas admito que na mesma me divirto imenso a vê-las. As últimas que vi chamava-se "Kiler" e "Kilerów 2óch", que é a sequela.
O primeiro filme conta a história de um taxista chamado Jerzy Kiler que é confundido com um perigoso assassino procurado pela polícia, cuja alcunha é killer. Certa manhã, a polícia entra no apartamento dele e prende-o, porque encontrou no táxi dele a arma usada no último crime. O pobre homem ainda tenta explicar-se, mas ninguém acredita nele. Por fim, vai parar à prisão, onde a maioria dos prisioneiros o trata com muito respeito, pois crêem que é o famoso killer, que realiza crimes por encomenda. No entanto, há um prisioneiro que aterroriza todos os outros e começa também a chatear o taxista. Como todos pensam que ele é um assassino contratado, pedem-lhe que mate esse tal prisioneiro. Sem se desmascarar, ele diz que vai pensar no assunto e pouco tempo depois, acidentalmente, acaba por matar esse homem. Entretanto, um antigo cliente do taxista decide organizar a fuga deste da prisão. Isto porque esse homem era um dos que contratava o killer e ficou muito surpreendido ao descobrir que, afinal, aquele taxista era o "seu" grande assassino. Mil e uma peripécias acontecem entretanto, muitos mal entendidos, até que no fim o Kiler consegue entregar à polícias os malfeitores que o queriam contratar e inclusive o verdadeiro killer, que não gostou de ver os seus créditos por mãos alheias.
Na sequela, o Jerzy Kiler entretanto tornou-se num homem famoso, que abriu uma fundação de caridade. Os malfeitores que foram presos por sua causa conseguem sair da prisão, pois são homens poderosos que usam as suas influências. Estes, por sua vez, querem arranjar uma maneira de o tramar e contratam um assassino para o matar. Mais uma vez há mil e uma peripécias, até que no fim acaba com um final feliz (para alguns, claro).
Estes filmes são daqueles que têm certas frases de culto, muito engraçadas. Gostava de um dia me aventurar e arranjar legendas em português para alguns destes filmes, mas...

sexta-feira, 13 de março de 2009

A Toca do Lobo

Ontem estivemos a ver o filme Valquíria, o tal do Tom Cruise. Achei muito interessante o facto de no filme aparecer o quartel-general do Hitler na Prússia Oriental, onde ocorreu o atentado, que na realidade fica na Polónia. Já em tempos tinha ouvido falar de uma casa qualquer onde o Hitler ficava na Polónia, na região dos lagos, mas nunca pensei que fosse esta. A Toca do Lobo - assim se chamava este quartel - fica na região de Kętrzyn, na Mazúria, perto de um grande lago. Este território pertencia à Polónia antes das partilhas do séc. XVIII, que a dividiram entre a Áustria, a Rússia e a Prússia. Apesar de se chamar Prússia, tal como nos outros antigos territórios da Polónia, as pessoas falavam polaco. Depois da Iª Guerra Mundial, a Polónia voltou a ser independente e recuperou alguns dos seus antigos territórios. No entanto, a Prússia Oriental continuou a pertencer à Alemanha. O Hitler decidiu instalar-se naquela região para dali comandar a invasão da Rússia, porque sempre era mais perto do que Berlim. O espaço estava muito bem organizado: no meio de um bosque, devidamente camuflado de modo a que nenhum avião desse por ele, nem os moradores da região. Daquilo que ouvi dizer, durante a guerra e mesmo muito tempo depois da guerra, os polacos desconheciam a existência daquele quartel. Mal sonhavam eles que o Hitler tinha andado por ali tantas vezes. Segundo dizem, passou ali bastante tempo, nomeadamente: entre Junho de 1941 e Julho de 1942, sete dias no início de Novembro de 1942 e depois desde o fim desse mês até Fevereiro de 1943, seis dias em Março de 1943, 12 dias em Maio de 1943, 17 dias no início de Julho de 1943 e depois desde o fim desse mês até Fevereiro de 1944, e por fim entre Julho e Novembro de 1944.
A Toca do Lobo foi descoberta quando o Exército Vermelho começou a avançar sobre os nazis. Antes de abandonarem o local, os nazis fizeram explodir tudo. Porém, dado que algumas paredes tinham espessura de oito metros, nem todas as explosões conseguiram destruir tudo, tendo alguns dos bunkers e locais sobrevivido até hoje (não muitos, pelo que percebi).
Durante a existência activa da Toca do Lobo, viveram ali mais de 2000 pessoas. Tinha edifícios de carácter residencial e vários bunkers. Havia um grande gerador de energia, que fazia com que não tivessem de depender das terras vizinhas. Tinha também um cinema, uma central telefónica, casino, café, enfim, digamos que estavam bem apetrechados. Neste local o Hitler recebeu convidados importantes de países seus aliados, entre os quais Mussolini, o Primeiro-Ministro romeno Antonescu, o czar Bóris III da Bulgária, o Primeiro-Ministro francês Pierre Laval (do governo de Vichy) e o embaixador japones Hiroshi Oshim.
Perto deste local existe o hoje chamado aeródromo de Wilamowo. Aqui, os nazis construiram o seu aeroporto privativo para trazer e levar pessoas para a Toca do Lobo, bem como para abastecer o local. Este foi aproveitado posteriormente pelo Exército Vermelho. O aeródromo de Wilamowo mais tarde voltou a ser outra vez conhecido, pois deste local os comunistas transferiram o Cardeal Stefan Wyszyński como prisioneiro (ele teve de mudar várias vezes de local, pois os comunistas queriam manter segredo sobre o seu paradeiro, para criarem o mito de que tinha morrido ou abdicado. Só que as pessoas descobriam onde ele estava e depois era o cabo dos trabalhos).
Quem sabe se no Verão não decidimos dar um salto até à Mazúria e aproveitamos para ver a Toca do Lobo? Pode ser interessante.

terça-feira, 10 de março de 2009

Retratos do fim-de-semana

A vista da janela do nosso quarto.

Um riacho no caminho para a nossa casa.

Um pormenor das paredes das casas de madeira. Elas costumam ter entre as traves estes rolinhos de palha (ou lá o que isto é) muito bem enrolados. Tradicionalmente, se entre as traves não houver isto, entra o ar. No entanto, hoje em dia há muita gente que usa estes rolinhos só para enfeitar e cola-os, para não saírem.

Vista de uma das estradas por onde tivemos de passar.

A pista de Kotelnica, em Białka Tatrzańska, por volta das 20h.

A vista de domingo de manhã. Estava tudo lindíssimo.

No caminho de regresso tivemos alguns problemas por causa da neve. Em certos sítios era quase impossível identificar onde ficava a estrada; tínhamos mesmo de conhecer o caminho ou então íamos parar sei lá onde.

O contraste no regresso: em Cracóvia apanhámos imenso sol e um dia lindo (à ida fomos por Katowice, no regresso por Cracóvia).

Fim-de-semana nas montanhas

Ia escrever no título deste post "fim-de-semana na neve", mas achei que era melhor mudar, porque fins-de-semana na neve já passei vários este ano em Varsóvia. O que queria mesmo dizer é que no fim-de-semana passado fomos para as montanhas. Numa viagem assim meio improvisada, saímos de Varsóvia na quinta-feira à tarde e regressámos no domingo à noite. Fomos até à região das Tatra, uma parte da enorme cordilheira dos Cárpatos. Ficámos alojados numa casa própria para receber turistas. Na Polónia é comum haver pessoas com vivendas grandes que alugam quartos a turistas. Nas montanhas então, há destas casas aos mil. A casa onde ficámos era deste estilo, vivia lá um casal com dois filhos. Os nossos quartos e os deles eram em zonas separadas, mas partilhávamos a sala de jantar e a cozinha. O mais interessante desta casa era que para se chegar lá era necessário subir uma montanha por um caminhozito estreito. Na noite em que chegámos estavam 5ºC. Nesse dia, a neve tinha começado a derreter e a escorrer por esse tal caminho. Pusemos correntes nas rodas do carro e ainda tentámos subir, mas o caminho estava mesmo muito mau e até as próprias correntes se partiram. Teve de vir o nosso anfitrião buscar-nos de jipe, porque de outra forma passaríamos a noite dentro do carro. Nos outros dias, entretanto a temperatura desceu e nevou bastante, pelo que o caminho ficou melhor para conseguirmos andar nele (e comprámos também correntes novas para o carro, claro).
Na sexta-feira fomos até Zakopane para fazer ski. Estivemos na pista de Nosal, onde me aventurei pela primeira vez neste belo desporto. Depois de umas quedas um pouco aparatosas (felizmente só mesmo aparatosas e não dolorosas) e de até ter ido parar à pista do lado, lá me consegui aguentar e divertir um bocado com aquilo. O pior é que nesse dia a temperatura ainda estava um bocado alta e estava a chover. Conclusão: quando saí dali, estava ensopada. Por sorte, a roupa de ski não deixa entrar água.
No sábado voltámos às pistas, desta vez em Białka Tatrzańska. Nesta tínhamos já estado no ano passado com o Hugo e de facto parecem-me melhores. Białka e Bukowina são duas vilas vizinhas muito bonitas, com casas de madeira giríssimas. Gosto mais delas do que de Zakopane, por serem mais tranquilas e mais tradicionais. Em Białka caí na asneira de ter ido para uma pista azul, achando que era uma verde. Claro está que na primeira descida fui ao chão várias vezes (muitas delas eu própria é que me atirava, porque achava que não ía conseguir travar). Foi chato que como a neve tinha começado a derreter na véspera, em alguns sítios havia gelo na pista, o que não era nada bom. Neste dia já não choveu, mas nevou.
No domingo ainda pensámos ir fazer mais um bocado de ski, mas como durante a noite caiu um nevão brutal (o nosso carro tinha uns 30cm de neve em cima), não conseguimos sair de casa com tempo suficiente para isso.
Apesar de não termos conseguido aproveitar o tempo como queríamos, foi um fim-de-semana bom. Adoro neve e tenho imensa pena que em Varsóvia já só haja chuva. Claro que mal posso esperar pela Primavera, mas a neve é sempre algo especial. Assim deu para aproveitar ainda um bocado deste fim de Inverno nas montanhas. Para o ano espero voltar, mas para uma semana de férias.