Há uns dois ou três fins-de-semana decidimos deixar a confusão da casa e ir passear por aí. Sabíamos mais ou menos para onde íamos, mas decidimos inventar nos caminhos e acabámos por visitar também outros sítios que não contávamos.
Inicialmente fomos pelo
parque nacional Kampinos, um parque enorme a noroeste de Varsóvia, com cerca de 38 hectares. É muito bonito, tem imensos caminhos por onde se pode andar a pé, de bicicleta, outros de carro, onde se podem fazer piqueniques, etc. Eu gosto muito deste parque, até porque há uns anos, quando estive em Wiersze (uma aldeia no meio deste parque) fartámo-nos de passear por lá.

Desta vez passámos por um cemitério de guerra onde também já tinha estado antes. Ali, naquelas matas, os alemães nazis mataram montes de polacos em segredo. Claro que as pessoas que moravam para aqueles lados íam-se apercebendo de algumas coisas, mas não diziam nada, com medo de serem também mortas. Mais tarde foi graças a elas que se descobriram as sepulturas. Porque os alemães (e penso que os russos em Katyń e outros locais também fizeram o mesmo) depois de enterrarem as pessoas, plantavam árvores por cima, para ninguém as descobrir. Quando se abriram as valas, alguns corpos foram identificados outros não. No actual cemitério aparecem algumas referências. Por exemplo, encontram-se lá políticos, jornalistas, escuteiros (os escuteiros tiveram um papel relevante na guerra, porque lutaram muito. Acho que não têm muito a ver com o conceito de escuteiro que nós temos hoje em dia), atletas, cientistas, etc. Judeus também, o cemitério assinala cada pessoa, mesmo que anónima, com uma cruz, mas alguns aparecem com a estrela de David.

Esta
imagem é de uma placa que se encontra na entrada do cemitério e diz: «É fácil falar da Polónia. Mais difícil trabalhar para ela. Ainda mais difícil por ela morrer. E dificílimo por ela sofrer.» Acho que nesta floresta de Kampinos se escondiam os membros do exército nacional clandestino.
Depois de passarmos por Kampinos, fomos andando pela margem do Vístula e atravessámo-lo mais à frente. Fomos a uma aldeia que tem uma igreja românica que dizem ser muito bonita, mas havia um casamento e praticamente não a vimos. Mas vimos a paisagem, que é muito bonita. Apesar da maioria das árvores ainda estarem verdes, já se começam a ver algumas com as cores típicas de outono, super bonitas.
Nesta altura do passeio, já estávamos a morrer de fome. Começámos a procurar uma tasca qualquer ou um café à beira da estrada para comer alguma coisita. Só que há um pequeno pormenor... Isto não é Portugal, a moda dos cafés não chegou aqui. Então andámos quilómetros sem encontrar nada.

Por fim, nessa aldeia onde há a igreja românica, que supostamente é um local turístico, perguntámos onde se podia comer. Achámos que passando por ali tanta gente, devia haver um cafézito. Qual quê! Disseram-nos que só havia uma tasca manhosa. Chegámos lá, aquilo era tipo taberna. Homens a beber cerveja e a ver numa televisão pequena um filme com um atraso brutal entre a imagem e o som. No balcão, uma mulher com ar de taberneira a dizer que não havia praticamente nada para comer. Por fim lá conseguimos arranjar alguma coisa, mas... Já não esperávamos grande coisa. Foi melhor que nada. E depois disto lá continuámos o nosso passeio.
Nesta altura já íamos em direcção a Varsóvia, quando decidimos fazer um pequeno desvio e ir ver as defesas de Modlin.

Estas defesas foram construídas penso que no século XIX, incialmente não pelos polacos, pois nessa altura a Polónia estava dividida. Mais tarde, quando a nação se voltou a reconstituir, os polacos melhoraram estas instalações, construiram bunkers e outras defesas. É muito engraçado. Entretanto, a maioria dos edifícios desta fortaleza foram desactivados, só alguns continuam a pertencer ao exército. Penso que talvez tenham sido os comunistas (eles adoravam fazer isto) que adaptaram vários desses edifícios para habitação. Então esta pequena vila é muito engraçada, porque mistura a parte que antigamente foi militar com casas normais. Então parece quase aquelas vilas que ficam dentro das muralhas de um castelo, só que esta é dentro da fortaleza. Ainda tentámos subir ao topo de uma torre que dava para ver tudo muito bem, mas chegámos à hora de fechar. Teve de ficar para outra altura. Durante a IIª Guerra Mundial, diz que esta foi uma das últimas fortalezas a capitular. Aqui vão algumas fotos com descrição:

A vista de um dos antigos edifícios da fortaleza, agora abandonado.

Um pormenor do edifício anterior: o letreiro branco assinala a entrada para um dos vários bunkers que se encontram a toda a volta.

Aqui encontram-se várias construções como esta, escondidas em pequenos montes. Esta não sei ao certo o que seria, mas algumas eram armazéns e esconderijos.

Um dos antigos prédios militares que agora está dividido em vários apartamentos onde vivem famílias. Os comunistas fizeram isto com imensos prédios antigos, sobretudo casas senhoriais e coisas do estilo. Criaram apartamentos minúsculos, muitas vezes com casas de banho comuns para todo o andar. As parvoíces dos comunas!... Estas casas não sei como eram por dentro, mas não tinham ar de ser tão más.

Aqui o local onde os militares se reuniam. Hoje pareceu-nos que é um local onde se organizam festas. Neste dia havia lá um casamento qualquer.
Estas defesas de Modlin são um sítio engraçado que vale a pena visitar com mais tempo.