terça-feira, 1 de abril de 2008

Funeral polaco

Aí há um mês atrás estive num funeral aqui em Varsóvia. Tinha morrido a avó de uns primos do Stas. Curioso é que os funerais cá são um pouco diferentes. Ainda para mais este, que teve uma característica especial.
Pelos vistos, aqui não existem velórios, nem capelas mortuárias nas paróquias. Quando alguém morre, tem de esperar que haja vaga na igreja do cemitério para se celebrar lá missa de corpo presente seguida de funeral. Onde esperam, não sei, talvez nas funerárias. No caso desta avó, esperou-se uma semana e tal para o funeral.
Mas o mais interessante é que esta senhora era otrodoxa. O marido era católico e os filhos foram educados nesta religião. No fim da vida, ela contactou bastante com um padre católico e tinha muito boas relações com o catolicismo. Não obstante, pediu para ser sepultada no cemitério ortodoxo, onde já estavam os seus pais e irmãos (e não no cemitério onde o marido foi sepultado). Então, celebrou-se missa católica numa igreja de cemitério e em seguida foi-se para o cemitério ortodoxo, para uma celebração especial deles.
Foi a primeira vez que entrei numa igreja ortodoxa (não contando com aquela capela que há em Fátima). É simplesmente espetacular. Muito bem ornamentada, com montes de velinhas, mas daquelas muito fininhas. Ao centro tem o altar que está tapado por umas portas de madeira. Pelo que ouvi dizer, as mulheres não podem entrar ali e aquelas portas só se abrem em ocasiões especiais. Ou seja, ninguém vê o altar.
A celebração foi também espetacular. Os padres ortodoxos vestem-se normalmente com umas batinas pretas compridas, mas sem botões à mostra. Para a celebração não se vestem muito diferente dos padres católicos, mas acho que as vestes eram mais bonitas. A celebração consistiu no padre a rezar algumas orações, alternadas com cânticos (havia um coro especial). De salientar que tanto o padre como o coro tinham uns vozeirões indescritíveis. Muito bom. O que eles iam dizendo alternava entre o polaco e uma espécie de russo antigo, que é a linguagem litúrgica deles, acho eu. O padre segurava uma velinha nas mãos, em alguns momentos foi incensar o altar (que foi aberto!), alguns dos principais ícones da igreja e o caixão. Havia momentos em que ele dizia qualquer coisa e que era suposto benzermo-nos, o que me deixou bastante atrapalhada, porque não sabia se me benzia à católica ou à ortodoxa. Não tirei fotos durante a celebração porque, afinal de contas, tratava-se de um funeral. Achei que seria de mau gosto. Mas aproveitei para tirar algumas depois do cortejo fúnebre sair. No caminho até à sepultura, aquele coro brutal continuava a cantar e o padre a dizer as suas coisas.
Devo dizer que, em geral, apesar de se tratar de um funeral, foi muitíssimo interessante. Nunca tinha assistido a nada assim. Na Polónia existem ainda bastantes ortodoxos, apesar de ser um país maioritariamente católico. É uma característica da história da Polónia a sua tolerância religiosa desde sempre, o que fez com que, por exemplo, muitos judeus tivessem vindo parar cá durante as perseguições na Europa. Então, por estes lados é comum ver uma igreja ortodoxa, por exemplo. Para mim foi a primeira vez, mas para a maioria das pessoas que lá estavam certamente não terá sido. Esperemos por uma próxima oportunidade.

(Peço desculpa pela má qualidade das imagens, mas foram tiradas à pressa, como devem calcular, e com o telemóvel...)

3 comentários:

Anónimo disse...

O pior foi o otrodoxa

Anónimo disse...

NO ENTARDECER DA VIDA

A oração por quem parte desta vida nunca é demais. Em geral é de menos. E em breve enredados pelo ritmo da vida diária, poucos se lembram de o fazer. Por isso, esta tia teve a dita de ser logo agraciada com duas celebrações de sufrágio por sua alma.
As finas velas que vemos na belíssima capela ortodoxa simbolizam a Fé desta senhora que encontrou e seguiu o CAMINHO a VERDADE e a VIDA.

Marta Maria

Anónimo disse...

afinal o telemóvel é bem bom