sábado, 8 de junho de 2013

Uma criança bilingue

Se há coisa que é difícil para nós de perceber é a forma como funciona o cérebro de uma criança bilingue. Uma amiga nossa, bilingue, fez a tese de mestrado sobre o bilinguismo e deu-nos uma cópia, que li com interesse. Em conversa explicou-me que eles não pensam com palavras, mas sim com imagens. É algo difícil de explicar, mas para ela - sendo bilingue - não fazia confusão nenhuma.
Aquilo que noto como sendo o principal problema (abstraíndo-nos completamente da questão da nacionalidade e a divisão do coração que daí advem) é a incompreensão. Esta incompreensão é proveniente do facto de a criança não se saber explicar tão bem em determinada língua, mesmo sendo língua materna, como qualquer outra criança da sua idade. Acontece várias vezes fazer alguma coisa e, como não consegue explicar-se a tempo ou dizer logo o que quer, ser mal interpretada. Isto, como é óbvio, provoca choro, gritos e grandes confusões. Felizmente estamos cada vez mais atentos a isto e, no caso da T., percebemos que temos de lhe dar tempo para falar e explicar-se. Muitas vezes começa a dizer algo numa língua e a meio muda para a outra, porque não sabe como se diz determinada coisa. Isto é a parte chata do bilinguismo.
A parte boa é ver a facilidade que eles têm para aprender línguas. No infantário, a T. adora inglês e já diz imensas coisas. Mas para além disso, ela própria agora já brinca às traduções. Por exemplo, aqui há uns tempos andava sempre a cantar uma música de um filme que viu em português. De repente, um dia começou a cantar a mesma música, mas em polaco. Perguntei-lhe se tinha aprendido com algum amigo ou se tinha visto o filme em polaco, mas ela disse que não. Simplesmente inventou. E inventou bem! Desde essa altura, tem feito isso com várias músicas, por brincadeira. A facilidade com que ela o faz é realmente perturbadora.
E o M., com 18 meses, já é bilingue? Claro, já percebe que uns falam polaco e outros português. Como está o tempo todo comigo, por agora percebe mais português do que polaco. O que achei piada é que ele diz sempre adeus em polaco (papa) quando se despede de alguém, mas ontem, numa loja, quando me despedi da vendedora, virou-se para ela e disse "adeus", enquanto acenava. Foi a primeira de muitas baralhações linguísticas que ele ainda vai ter.

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