Este verão (que entretanto já acabou) só tivemos direito a um fim de semana de férias. Passámo-lo em Dąbrówno, uma vila na região da Mazúria, ladeada por dois grandes lagos. O sítio, devo dizer, é bastante giro. Nunca tinha passado férias (ainda que mini-férias) nos lagos, como cá se costuma fazer muito. E, de facto, gostei muito. Fizemos canoagem, andamos de barco a remos e só não nadámos porque estava uma aragem demasiado fresca.
Dąbrówno é uma vila histórica. Foi construída pelos cruzados no século XIV. Os cruzados, na sua luta contra os infiéis, vieram até esta zona da Europa e aqui se estabeleceram durante algum tempo. Apesar da Polónia ser um país cristão, tinha uma grande tolerância religiosa e entre os seus aliados contavam-se alguns povos vizinhos de leste de outras religiões. Por isto, eram alvo de repetidos ataques por parte dos cruzados, também chamados cavaleiros teutónicos.
Os cruzados deixaram a sua marca em várias regiões da Polónia, onde se podem ver os fantásticos castelos que construíam. O maior deles todos está em Malbork. Passei por lá em Janeiro deste ano, mas já tarde demais para visitar ou sequer fazer fotos do exterior. O castelo de Malbork é património da Unesco e é o maior no mundo construído com tijolos. No séc. XIV era neste castelo que se encontrava o grão-mestre dos cruzados.
A vila de Dąbrówno fica muito perto de Grunwald, outra vila polaca de grande interesse histórico. Foi aqui precisamente que se deu aquela que por muitos é chamada de maior e mais sangrenta batalha da Idade Média. De um lado, os cruzados. Do outro, os exércitos polaco e lituano (e mais alguns aliados), chefiados pelo rei polaco Władysław Jagiełło. Esta batalha, da qual sairam vencedores os polacos, acabou com a presença dos cruzados na região da Polónia e foi o início do declínio da ordem, que mais tarde se veio a extinguir. Ao que parece, os polacos massacraram mesmo! Apesar de não haver consenso quando ao número de tropas de cada um dos lados, sabe-se que os polacos e os seus aliados eram mais que os cruzados. Ou seja, enquanto nesta altura os portugueses andavam entretidos a querer conquistar meio mundo, os polacos andavam a expulsar os cruzados do seu território. Uma ordem religiosa de cavaleiros que deviam defender a fé, acabou por ser derrotada por um reino cristão (será por o rei ter mandado celebrar duas missas antes da batalha?).
Todos os anos, no aniversário da batalha (15 de Julho de 1410), realiza-se uma gigante encenação deste acontecimento no descampado de Grunwald. Ainda não tive oportunidade de assistir, mas espero algum dia conseguir lá ir. O terreiro onde se deu a batalha é enorme. Percebe-se que, de facto, era o sítio ideal. Actualmente, a zona continua aberta como antes. Apenas tem um museu subterrâneo e um ou outro monumento. Curioso o facto de estarem lá os restos de um monumento dedicado a esta batalha que estava em Cracóvia, mas que os nazis destruiram durante a guerra. Isto porque a maioria dos cruzados eram alemães.
A batalha de Grunwald ficou imortalizada por um famoso quadro do pintor polaco Jan Matejko, em exposição no Museu Nacional, em Varsóvia.
Entretanto, há uma semana vi um filme polaco dos anos 60 inspirado no livro de Henryk Sienkiewicz, chamado Os Cruzados. Mostra um pouco de como era a Polónia nesta época em que os cruzados dominavam uma parte do actual território polaco. É muito interessante. Apesar de ser uma obra de ficção, tem um background histórico. O filme mostra como os cruzados tinham começado a perder a essência religiosa da ordem e só queriam era fazer guerras. Termina com a batalha de Grunwald, é claro, e a vitória dos polacos sobre os "mauzões" cruzados.
1 comentário:
pelos vistos somos mais do que pensamos.
parabéns pelo teu blogue. é mais um olhar sobre varsóvia, esta terra que exerce sobre mim - diria nós? - uma sensação de amor/ódio.
vou ficar atento às tuas linhas, tenho curiosidade em conhecer a tua história e se quiseres dar um toque tens aqui o meu mail.
pozdrawiam ;)
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