Hoje comemora-se o aniversário da libertação do campo de Auschwitz. O presidente polaco e alemão lá se encontraram em Auschwitz para uma cerimónia com antigos prisioneiros (fiquei a saber que o presidente da Alemanha se chama Christian Wulff... nem sabia que ele existia...).
Este dia foi proclamado Dia Internacional da Memória do Holocausto pela ONU em 2005, altura em que se reconheceu oficialmente a existência do Holocausto. A propósito disto, gostava de escrever umas breves linhas sobre um polaco notável, chamado Witold Pilecki, membro da resistência polaca durante a guerra.
Quando o mundo, durante a guerra, insistia em fechar os olhos ao que se estava a passar e em negar que houvesse extermínio de pessoas, Pilecki decidiu fazer algo muito arriscado: deixou-se prender para ir para Auschwitz e aí recolheu o máximo de informações para passar à resistência e, por conseguinte, aos aliados.
Pilecki era um militar, que já tinha lutado na guerra contra os russos anos antes. Quando se iniciou a IIª Guerra Mundial, lutou contra os alemães na chamada Campanha de Setembro. Depois disso, veio para Varsóvia e trabalhou com a resistência. Em 1940 teve a ideia de ir para Auschwitz recolher informações sobre o funcionamento do campo e de criar aí um movimento secreto de oposição. Certo dia, quando os alemães apanhavam pessoas na rua para enviar para o campo de concentração (em polaco traduz-se literalmente por "apanhadas", porque as pessoas eram apanhadas na rua assim do meio do nada), ele meteu-se lá no meio e foi também apanhado. Quase 3 dias depois chegou ao campo de concentração.
Durante a sua estadia, organizou o novo movimento de oposição, criando diferentes núcleos (que não sabiam da existência uns dos outros) que se ajudavam mutuamente, fosse a arranjar mais comida, divulgando notícias do exterior (ou passando para fora) ou mesmo animar os espíritos dos outros prisioneiros. Para além disso, Pilecki foi recolhendo informações sobre o genocídio que estava a acontecer dentro de Auschwitz e através de diferentes pessoas foi passando-as para fora (umas para a resistência, outras para os aliados - informações estas que foram ignoradas, pois os aliados continuavam a achar que era tudo um mito).
Por fim, em 1943 Pilecki conseguiu fugir com mais dois prisioneiros. Andou uns tempos escondido e mais tarde voltou às suas actividades, participando na Insurreição de Varsóvia e no exército polaco no estrangeiro, em Itália, lutando com o general Anders.
Com o fim da guerra, regressou à Polónia e começou a recolher informações sobre o que estava a acontecer aos soldados polacos que tinham lutado na resistência, pois os russos andavam a perssegui-los e muitos tinham sido deportados para a Sibéria. O acima mencionado general Anders disse-lhe para fugir da Polónia, mas Pilecki achou que não havia perigo para si. Enganou-se. Em 1947 foi preso pelo UB (a polícia política dos tempos do comunismo) e um ano depois foi condenado por crimes como: atravessar ilegalmente as fronteiras, utilização de documentos ilegais, posse ilegal de armas, ser espião do general Anders (e colaborador do governo polaco no exílio) e tentativa de golpe contra o Ministério da Segurança Nacional. Pilecki acabou por ser assassinado com um tiro na nuca e atirado para uma qualquer vala comum (não há certeza do sítio onde foi enterrado).
Antes de morrer, Pilecki disse à sua mulher que o UB era pior que a SS de Auschwitz. Terá dito algo como: "Auschwitz ao lado disto é uma ninharia".
Nos últimos anos, Pilecki foi postumamente condecorado pelas autoridades polacas com duas ordens oficiais, uma delas a mais importante na Polónia.
Placa que assinala o local onde Pilecko se deixou apanhar para ir para Auschwitz. Diz o seguinte: Aqui, no dia 19 de Setembro de 1940, foi preso pelos nazis o capitão Witold Pilecki (1901-1948), "Witold", a fim de, como prisioneiro nº. 4859 de Auschwitz, organizar uma conspiração dentro do campo de concentração. Morreu na prisão em Mokotów [Varsóvia] às mãos dos carrascos de Stalin, + 25 de Maio de 1948. Paz à sua alma.
2 comentários:
Muito interessante! Acredita que aqui no Brasil, apesar de todas as fotos, reportagens, testemunhos, há pessoas que acreditam que o holocausto foi uma farsa? Lamentável !
É como a ida do homem à lua, também há muita gente que acha que foi tudo feito num estúdio. Só que com o holocausto trata-se de uma coisa bem mais grave...
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