terça-feira, 1 de março de 2011

Wola

Na semana passada tive de ir a Wola, um dos bairros mais antigos de Varsóvia. O bairro onde moro - Ursynów - é, como costumo dizer, um mundo à parte. A maior parte das vezes sinto-me como se vivesse numa cidade diferente, que faz fronteira com Varsóvia. Raramente tenho de ir para as zonas centrais da cidade, porque aqui à volta há tudo: serviços municipais, médicos, cinemas, restaurantes, hipermercados, etc. Para além disso, Ursynów encontra-se muito bem delimitado; diria até que é o único bairro de Varsóvia cujas fronteiras estão bem definidas. Nos outros bairros há sempre zonas que não sabemos muito bem se pertencem a este ou àquele, mas em Ursynów nunca encontrei nenhum sítio assim.
Wola é um bairro com muita história. Em Wola fica, por exemplo, o cemitério Powązki. Durante a IIª guerra mundial foi principalmente neste bairro que se delimitou o gueto dos judeus (ainda hoje há um fragmento do muro que pode ser visto numa das ruas). Aquando da destruição do gueto, arrasou-se completamente com tudo o que havia dentro daqueles muros, até ficar tudo quase em pó. Um ano depois, já perto do fim da Insurreição de Varsóvia, os alemães enviaram para Varsóvia um batalhão composto sobretudo por assassinos e outros reclusos que foram "re-integrados" no exército, cujo objectivo era simplesmente matar, matar, matar. À medida que iam avançado por Varsóvia, iam matando todas as pessoas que encontravam pelo caminho. Foi uma autêntica chacina em que, em coisa de dois dias, morreram quase 60 mil pessoas. Wola ficava, nessa altura, na fronteira de Varsóvia. Os soldados entraram por aí e limitaram-se a matar civis, pegar fogo às casas, empilhar cadáveres e queimá-los também, enfim, uma barbárie indescritível. Depois destes acontecimentos, Wola quase deixou de existir. Praticamente todas as construções que ali vemos hoje são do pós-guerra. No entanto, aqui e ali descobrem-se memórias do passado.
Uma curiosidade que certa vez me contaram sobre Wola é o facto da maioria das casas se encontrar um pouco mais elevadas do que o normal, isto é, o rés-do-chão não é tão baixo como noutras partes de Varsóvia. Isto porque todos os prédios foram construídos por cima das ruínas que ficaram da guerra. Para além disso, contaram-me também (uns amigos que viveram alguns anos em Wola) que quando se faz alguma escavação por ali às vezes encontram-se esqueletos ou objectos imagino que pertencentes às pessoas que ali viveram.
Pormenores sinistros à parte, em geral acho que Wola é um bairro com uma certa piada. Com o seu comércio local, meio tradicional, espaços verdes por entre as casas, elétricos a passar e casas antigas (ainda que antigo signifique dos anos 50), tem um certo charme. Quem quiser visitar Varsóvia, recomendo um passeio por Wola.

2 comentários:

Anónimo disse...

Com as mortes em quantidades industriais nos campos de concentração e mais aquilo que acabas de contar pergunto-me como é que sobraram polacos vivos??? Quantos haveria antes da guerra e depois da guerra? Essa leva de assassinos e criminosos que os nazis enviaram para chacinar nesse dia essa brutalidade de gente que seriam quaisquer civis não judeus, levanta-me também a interrogação do porquê desse brutal ódio dos alemães contra os polacos, portanto não somente os polacos-judeus. Alguém me sabe explicar???

Stan disse...

Neste caso foi represália por causa da insurreição de Varsóvia. Mas daquilo que sei, estes problemas já vêm de longe - não foi a batalha de Grunwald, entre polacos e cruzados (alemães), a maior batalha da Idade Média??