segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Quando o cérebro começa a baralhar línguas

Noutro dia telefonaram-me de uma agência de traduções a perguntar se eu podia ir fazer tradução simultânea numa formação. A tradução devia ser feita para espanhol. Se fosse há uns anos atrás, não havia qualquer problema, tinha dito logo que sim. No entanto, infelizmente tive de recusar o trabalho. Acontece que, desde que estou na Polónia, tenho tido mais dificuldade em falar línguas como o espanhol ou inglês. Como o meu dia-a-dia gira à volta do português e do polaco, não é fácil de repente passar para outra língua. Nos últimos anos, sempre que por qualquer motivo tenho de falar outra língua, dou por mim a meter palavras polacas pelo meio e a baralhar tudo. Por causa desta falta de treino não me senti capaz de fazer essa tradução.
Mas o pior de tudo é quando estou a falar português e de repente salta-me uma palavra polaca para a boca. Já me aconteceu em Portugal em várias situações, mas deu sempre para disfarçar de tal modo que as pessoas com quem estava a falar não deram por isso. Aqui em casa, por exemplo, quando estamos a falar português, às vezes meto uma palavra polaca pelo meio (normalmente palavras que não há em português, ou que em polaco resultam melhor em determinado contexto), outras vezes "aportugueso" algum termo polaco concreto. Por exemplo, quero referir-me aos prédios de vários andares típicos do comunismo, chamados coloquialmente "blokowisko", mas no plural; então faço à portuguesa e no fim acrescento um "s" (neste caso ficaria "blokowiskos"). O que nunca me tinha acontecido foi, como ontem, aportuguesar uma palavra sem me dar conta disso e dar por mim a dizer uma frase sem sentido nenhum. Tratava-se da palavra "pan", que significa senhor. Tínhamos acabado de falar com um senhor, de quem eu não me lembrava, mas o Stas sim. Depois deste se ausentar, comentei em português que não me lembrava do dito senhor. Só que, como a conversa anterior tinha sido em polaco, dei por mim a dizer: "Não me lembro deste pão"... Mal as palavras me saíram da boca, percebi a asneira que tinha dito (até porque o senhor, coitado, nem era nenhum pão...) e fiquei muito surpreendida como é que o meu cérebro me pregou uma partida destas. Vulnerabilidades linguísticas. Agora estou à espera para ver qual será a próxima. O mais curioso disto tudo é que a minha filha não tem estas baralhações como eu. Ou fala português, ou fala polaco, ou mistura, mas nunca aldraba as palavras destas maneiras.

1 comentário:

Anónimo disse...

Realmente dá que pensar... Se calhar foi uma associação à expressão: o tipo é um pão duro. Ou então a outra hipótese mais plausível é que estarias já com vontade de comer um pãozinho para saciar esse pequenote que trazes na pancinha.É favor pancinha... já é mais uma pançona!
Ah, ainda uma derradeira hipótese: o dito homem teria aquelas caras gordas gordas e nariz bem gordo também e abaulado! Pois isso lembrou-te logo um desses pães bojudos polskis. Afinal tinhas razão em lhe chamar pão e não pan...