terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

As mães polacas

No que diz respeito à maternidade, na Polónia há uma mentalidade um pouco diferente de Portugal. Apesar de haver que pense e promova o contrário (artigos em revistas, etc), as mulheres polacas, quando têm possibilidade, não se importam de sacrificar um pouco a carreira para serem mães. Há alguns médicos que, mal a mulher engravida, dão-lhe logo baixa e recomendam passar a gravidez tranquilamente, sem trabalhar (conheço vários casos destes). Para além disso, depois da licença normal de maternidade após o parto (que é igual a Portugal), há quem tire uma "licença de educação", que é uma espécie de licença sem vencimento até a criança fazer 3 anos (e depois tb até aos 6, parece-me). Depois destas licenças todas, quando a mulher regressa ao trabalho, há uma lei que diz que não pode ser despedida durante os próximos 6 meses ou 1 ano (já não me lembro exactamente). De todos os casais nossos amigos que têm filhos, só conheço uma mulher que voltou ao trabalho "logo" depois da filha nascer - e isto foi quando a filha tinha quase um ano! De resto, são todas mães a tempo inteiro. - Aliás, esta que regressou "logo" ao trabalho começou primeiro por trabalhar a partir de casa (a empresa aceitou esta solução) e só mais tarde voltou ao escritório.
Quando comecei a ir com a Teresa às aulas dela uma vez por semana, reparei que a maioria das crianças estavam ali com as mães. Claro que há um ou outro caso de uma avó que vai com um neto. O mais curioso é que estas crianças têm todas 3 ou quase 3 anos! Algumas mães têm ainda filhos mais pequenos e imagino que estejam a desfrutar da licença de maternidade desses pequenos. Outras não têm mais filhos e simplesmente não trabalham. É algo que para mim, com a minha mentalidade portuguesa, me fez alguma impressão, pois estou habituada a que as mulheres, mal a criança faça 4 ou 5 meses, vão logo trabalhar. Afinal, aqui há muita boa gente que não faz nada disso. E não é por serem ricos, porque não são. Penso que estas mulheres têm a sensibilidade de perceber que as crianças pequenas ficam melhor em casa com as mães do que numa creche fria e impessoal.
Um aspecto que imagino que ajude é o facto dos polacos terem recebido uma educação em que se valorizava muito o poupar (por causa dos tempos difíceis do comunismo). Digo isto porque noto como, por exempol, às vezes as polacas conseguem criar refeições a partir de coisas com as quais eu nunca seria capaz de o fazer. Não porque sejam más, nada disso! Simplesmente nunca tive necessidade de poupar nos ingredientes. Às vezes em casa de alguém decide-se improvisar algo para comer e eu olho para o frigorífico e fico em branco. As polacas pegam logo nisto e naquilo, e em poucos minutos preparam um jantar! Aproveitam tudo (ou quase tudo) e nesse aspecto têm mais imaginação do que eu.
Isto para dizer que as minhas amigas que estão em casa com os filhos sabem gerir bem a economia doméstica. Quem fala na comida, fala também em vários outros aspectos do dia-a-dia. Admiro muito esta capacidade dos polacos.
Será que estas mulheres por estarem em casa dos filhos e fazerem uma pausa nas carreiras durante uns tempos se sentem frustradas com isso? Daquilo que tenho visto, não. Para elas, investir num filho é mais importante do que investir na carreira, mesmo com todos os sacrifícios que isso possa trazer. Neste aspecto, graças a Deus que agora estamos na Polónia, porque se estivessemos a viver em Portugal, seria impossível estar em casa com a Teresa.

3 comentários:

Margarida Elias disse...

Eu devo ser um pouco polaca, porque acho que elas é que têm razão. Eu não me importo de trabalhar, mas penso que a família vem primeiro. E isso em Portugal é muito difícil, porque só quem tem muito dinheiro é que pode pensar assim...

bulaxa disse...

Pois eu, estando casada com um polaco mas a viver em Portugal, tenho a sensação de que estou constantemente a ser criticada por estar a trabalhar apesar de estar grávida. Os meus sogros estão constanyemente a pergutar por que não meto baixa e por que não peço licença para ficar mais tempo em casa. Eu compreendo e até concordo com essa filosofia de vida, mas fico às vezes um bocadinho triste por não perceberem que do lado de cá não é possível tirar três anos para cuidar dos miúdos. Por muito que gostasse, tenho de pesnar no futuro, e isso inclui preservar o meu emprego. Infelizmente ainda não ganhei o euromilhoes para me poder dedicar a 100% à família. :(

mvs disse...

Se há coisa que não há em Portugal são políticas pró-família. Não é que na Polónia haja mais (há pouco tempo o governo aprovou um decreto que prevê a criação de mais creches, porque saía mais barato do que dar subsídios aos pais para serem eles a estar com os filhos), simplesmente acho que as pessoas têm uma mentalidade mais "aberta" no que diz respeito à maternidade e há maiores possibilidades financeiras. Daquilo que vejo em Portugal, quem se governa só com um emprego, sem não ter de arranjar um outro para compensar o primeiro, já tem muita sorte...